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  • 03/10/2016

    Crônica: Perto de acabarem os laços

    Já são 4 anos que ganho presentes literários nessa época do ano. São 4 anos que quando chega esse mês, quando chega essa data, recebo embrulhadinho um presente que me pede outro presente. Recebo um presente que de certo nem imagina que é presente e considera minha felicidade outro presente.

    São 4 anos que me desafio, me supero e me delicio transformando boneca em texto, jornalista em conto, curiosidade em crônica e, hoje, menina em despedida.

    Não exatamente uma despedida, mas eu sempre entrego meu presente, de volta ao remetente que me pede esse carinho anual, embrulhado em um pacote de palavras emaranhadas, que juntei em uma trança de amores sobre ela. Tenho todo o cuidado de escolher rendas, pérolas... Já pude escolher tachinhas, spikes, cores fortes, cores sóbrias, delicadeza, intensidade. 

    Já usei fragrâncias leves, de flores que estão ainda descobrindo que podem desabrochar. Depois essa flor desabrochou, abriu linda, poderosa, cheia de cor, aprendeu a lidar com a brisa que tocava toda manhã. Se assustou com a noite que vem logo em seguida de todo fim de tarde. Aprendeu a escolher as melhores gotas de orvalho. Essa flor que aprendeu que pode se fechar, se reconstruir e abrir de novo em cores novas, combinações de cores novas. Combinações tão incríveis que nos faz achar até que é uma espécie nova, principalmente quando experimentamos o perfume e ele está além do doce, foi pro mistério.

    E assim, eu decoro meu embrulho de acordo com a minha flor, mas um detalhe que eu sempre mantenho é a fita rosa de cetim, com brilho discreto e textura fofinha. Uma fita que dá conforto e vontade de deitar, pra descansar. Fita que quando o mundo não está fácil de encarar, dá vontade de amarrar nos olhos e filtrar a vida, pra enxergar tudo cor de rosa. Uma fita que não muda, porque coração não muda e é com ele que vemos os detalhes mais importantes. Então essa fita não muda.

    Mas, dessa vez, quando terminei de embalar todo meu amor em palavras, puxei a fita pela pontinha, embalada por um pop divertido, com a intenção de completar as várias voltas do laço no mesmo ritmo do som… enroscou!

    Parou.

    Acabou a fita.

    Precisei ir até o rolinho, pendurado na parede, soltar a pontinha final da minha fita de cetim rosa, que estava presa com um durex. Parecia que a fita estava apegada demais à tradição de embrulhar esse presente anual. Ela não queria sair de jeito nenhum!

    Com um pouquinho de força ela soltou. Desfiou essa pontinha. Parecia que a fita estava chorando.

    Mesmo assim, foi o tamanho certo pra terminar o laço com graça! Laço pomposo, bem cheio mesmo, digno de presente caro, ali dentro!

    Quando eu terminei o laço, a pontinha, sozinha, se enrolou no restante da fita, parecendo que como num abraço, ela estava feliz de acabar ali, naquele lugar.

    Minha boneca, jornalista, miniatura de coleção foi embalada por uma última vez pela fita de conforto.

    Vamos esperar a próxima primavera agora, quando o fornecedor vier me trazer novos modelos. Vamos esperar pra ver como essa flor vai desabrochar daqui 3 estações, para que eu possa escolher pela melhor cor e textura. Para que eu possa, de novo, traduzir todo meu carinho em uma fita.

    Vamos viver e amar essa primavera!

    Crônica: Geovana Mara

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